quarta-feira, 22 de novembro de 2017

CHILDFREE: É PROIBIDO PROIBIR




Primeiro eu achei que era piada.
Depois, pensei melhor e percebi que ninguém seria capaz de uma brincadeira tão sem graça. O tal negócio era sério mesmo.
Childfree. Ou, na tradução literal, “livre de crianças”.
Para quem, por sorte, nunca ouviu essa palavra antes, vale uma breve explicação. O childfree é um movimento que busca restringir a entrada dos pequeninos em hotéis, bares, restaurantes e outros estabelecimentos aparentemente feitos para adultos. Os simpatizantes defendem que é uma forma de se garantir a paz e o sossego em locais frequentados por casais sem filhos, que assim podem se embriagar em silêncio antes de seguir para o motel. Eu sei... É realmente difícil se acreditar em certas coisas. Fantasmas, extraterrestres, a lei de fidelidade partidária, o microfone do Sílvio Santos... Tem gente que duvida até hoje que o homem foi à Lua, só para citar um exemplo. Eu mesmo custei a aceitar que a seleção havia perdido a final da Copa de 98, embora tenha assistido àquele desastre pela televisão, como todos os outros brasileiros. Achava que acordaria no dia seguinte e que todos aqueles gols teriam sido um pesadelo pavoroso, fruto de um delírio nacional coletivo que contagiara torcida e imprensa num imenso surto psicótico. Fiz terapia e tudo.
Mas pior que o Zidane só mesmo o childfree – muito provavelmente os gênios que tiveram esta brilhante ideia se esqueceram de que eles próprios já foram crianças um dia.
Fico aqui pensando com meus botões qual seria a reação das pessoas se a tal proibição atingisse um outro segmento social, como os homossexuais, os deficientes, os índios ou os torcedores do América. Imagine só: “neste supermercado idosos não entram” ou “gordos não são bem-vindos nesta pizzaria”, ou ainda, “nada de torcedores do América perto da minha barraca de maria-mole”. Parece bizarro, não?
Colocando as coisas nestes termos, fica claro que o childfree, sob o manto de um falso movimento libertário, encerra um discurso de ódio e intolerância contra crianças. É claro que a opção de não ter filhos é uma escolha tão natural quanto qualquer outra e, como tal, merece respeito. O problema acontece quando essa opção transborda a esfera individual para se transformar num movimento que enxerga as crianças como criaturas inimigas. É justamente nesse ponto que toda a ideologia se perde, pois quem se sente plenamente feliz e realizado com suas escolhas não tem necessidade de convencer (ou obrigar) os demais a pensarem do mesmo modo.
Na verdade, o childfree é um movimento fascista, segregador e fruto de uma moralidade distorcida, na medida em que não se restringe à opção de não ter filhos, mas se esforça em afastar as crianças do convívio social. Prova maior disso é a placa recentemente colocada numa lanchonete de São Paulo, na qual se diz “cachorros são bem-vindos, mas favor amarrar as crianças ao poste”. Precisa dizer mais? Sorte deste sujeito que o cachorro dele não sabe ler.
E sorte nossa que as crianças não são politicamente organizadas a ponto de responderem na mesma moeda. Pois eu detestaria ser proibido de entrar na sorveteria.

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