terça-feira, 19 de abril de 2016

Ser pai de menina é...



eduardo buzzinari - pai de menina
(Este texto é parte integrante do livro Pai de Menina: Bem-vindo ao Mundo Cor de Rosa, de Eduardo Buzzinari)



Ser pai de menina é ter que aprender a dar laços em vestidos, a pentear os cabelos da filha e a passar esmalte nas unhazinhas dela. É estar disposto a brincar de bonecas, a pular amarelinha e a inventar histórias de bichinhos. É achar natural colecionar figurinhas cor de rosas e se emocionar com filmes de princesas.
É trocar os heróis da liga da justiça por um grupo esquisito de fadinhas encantadas. É torcer para que o mocinho beije a mocinha no final da aventura no cinema. É passar horas colorindo estrelinhas e desenhando coraçõezinhos atravessados por flechas numa folha de papel. É finalmente experimentar (ou redescobrir) a cor de rosa na caixa de lápis de cor.
Ser pai de menina é acordar que nem um zumbi pra trocar fraldas e se desmanchar quando a baixinha abre aquele sorriso no meio da madrugada. Aquela banguelinha... É pegar a filha no colo e levantá-la bem alto, enquanto a mamãe grita cuidado pra não cair. E ela só rindo. É ir à apresentação de balé no fim do ano e ficar o tempo todo tirando fotos na primeira fila da platéia. É saber de cor a letra das musiquinhas de ninar e se pegar cantando sozinho, sem querer, enquanto muda de roupa para ir trabalhar. É sentir na própria pele a agulha da vacina e fazer cara feia pra enfermeira que fez sua garotinha chorar.
É pegar na mãozinha dela pra entrar no mar e ouvi-la dando um gritinho quando a primeira onda lhe chega aos pezinhos. É ficar feliz da vida quando alguém se aproxima e diz é a cara do pai. E não é que é? É detestar a hora do com quem será nas festinhas de aniversário. É levar a pequena correndo para colocar os brinquinhos ainda nas primeiras semanas de vida. É entender de xuquinha, laço de fita e comida de mentirinha. É perder a esportiva quando os amigos vêm com aquele papo atravessado de fornecedor. Que ideia mais torta...
Ser pai de menina é vigiar como um cão de guarda a entrada do berçário. É sentir a filha dormindo serena e tranquila sobre seu peito e ignorar solenemente a opinião dos especialistas que recomendam o berço. É ensinar a boneca a arrotar refrigerante e a dar risada depois. É morrer de orgulho quando ela sobe mais alto que qualquer menino no trepa-trepa do parque. É ficar todo bobo de vê-la andando meio atrapalhada com os sapatos de salto da mãe. É não ter vergonha de admitir o ciúme de vez em quando. É sentir cortar o coração quando vê descer uma lágrima dos olhinhos dela. É carregar para sempre na lembrança uma pequena bailarina que não cresce jamais. 
        É descobrir que não existe um dia igual ao outro e que a vida não foi feita com manual de instruções.
É ser o primeiro amor da sua filha e nela descobrir o mais puro e doce dos amores.
Amor que não se mede.
E, sobretudo, é se derreter feito manteiga quando aquelas duas jabuticabinhas se abrirem ao mundo e encontrarem seus olhos pela primeira vez ainda na sala do hospital.
Se segura, parceiro.
Você vai se apaixonar.





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quarta-feira, 6 de abril de 2016

Terrible Two: A Idade da Birra


pai de menina - eduardo buzzinari
(Conheça o livro Pai de Menina: Bem-vindo ao Mundo Cor de Rosa, de Eduardo Buzzinari)


Antigamente – e quando digo antigamente me refiro a antes de ter filhos – eu via uma criança fazendo birra no shopping e logo pensava que a culpa era dos pais. Era só ver os pequeninos batendo o pezinho, sacolejando os braços ou chorando a plena força dos pulmões que eu já crucificava os pobres do papai e da mamãe. Isso é culpa dos pais que não chamam a atenção da menina, não educam, não impõem os limites na hora certa... Aí, depois ela cresce e vira uma adolescente mimada, que não respeita ninguém... Mas a própria vida irá tratar de ensiná-la no futuro e etecetera e etecetera... Esse era o meu discurso antes de passar a jogar no time dos casados e cometer a insanidade de me tornar pai.
Eu achava que, para criar um filho, não era necessário nada além de um diálogo franco e aberto. Ledo engano. Pura ilusão. Não que o diálogo não seja importante na relação pai e filho, mas, para que esse mecanismo tenha alguma utilidade prática, é preciso um mínimo de cooperação e atenção participativa do interlocutor. E isso só se torna minimamente viável lá pelos quatro ou cinco anos de idade. Em outras palavras, entabular uma conversa racional com uma criança menor que isso é o mesmo que tentar convencer as paredes de que o céu é vermelho.
Acredite em mim: é absolutamente impossível argumentar com uma criança de dois anos que se encontra enlouquecida de raiva porque o canudo da lanchonete não é da cor que ela queria.
Por isso, se você ainda não tem filhos, tenha um pouco de complacência com aquele pai desesperado porque a linda pivetinha se recusa a sentar na cadeirinha e colocar o cinto de segurança ao embarcar no automóvel da família. Lembre-se de que ele deve estar sem dormir direito há semanas, cansado de trocar fraldas dez vezes ao dia e preocupado porque a baixinha não quer comer nada ultimamente. Lembre-se de que sua casa provavelmente está com as paredes rabiscadas, brinquedos espalhados pela sala e um rolo de papel higiênico atolado no vaso sanitário. Lembre-se de que o carro dele certamente não vê água desde a última chuva e deve estar com os bancos cheios de pegadas de criança e farelo de biscoito.
E tudo graças à coisinha mais fofa e inofensiva da casa.
Isso mesmo.
Aquela anjinha capaz de fazer o mundo se desmanchar num sorriso. Todo cuidado com ela! A baixinha acaba de entrar na idade da birra.

Sempre na vanguarda dos slogans e clichês irritantes, os americanos criaram a expressão terrible two (ou terríveis dois, na tradução literal) para denominar o período catastrófico que começa por volta de um ano e meio de idade da criança e se estende dramaticamente até que ela complete o terceiro aniversário. Um pouco mais ou um pouco menos, dependendo da sua má sorte. É justamente nessa fase que a pequenina começa a expressar seus desejos e opiniões próprias, o que nem sempre se contextualiza de modo civilizado e coerente.

- Liz, o que você quer comer?
- Batatinha.
E quando o pai chega com o prato de batatinhas...
- Eu não quero isso!
E dá-lhe pirraça.

A verdade é que aos poucos – e por falta de alternativa diversa – os pais vão se adaptando aos chiliques e faniquitos dos filhos. Acostumam-se a fazer as refeições ao som da insuportável programação da TV infantil; aprendem a melhor forma de imobilizar as pernas da criança na hora de trocar as fraldas (de modo a evitar um chute na cara); e passam a agir com naturalidade enquanto ela se deita no chão do supermercado e esperneia porque quer abrir e comer o tubo da pasta de dente que acaba de ser colocada no carrinho.
É isso aí, parceiro...
A boa notícia, como já disse Piangers, é que o terrible two não dura para sempre. E nem poderia.
Até porque depois dele vem o terrible three, o terrible four...

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