quarta-feira, 6 de abril de 2016

Terrible Two: A Idade da Birra


pai de menina - eduardo buzzinari
(Conheça o livro Pai de Menina: Bem-vindo ao Mundo Cor de Rosa, de Eduardo Buzzinari)


Antigamente – e quando digo antigamente me refiro a antes de ter filhos – eu via uma criança fazendo birra no shopping e logo pensava que a culpa era dos pais. Era só ver os pequeninos batendo o pezinho, sacolejando os braços ou chorando a plena força dos pulmões que eu já crucificava os pobres do papai e da mamãe. Isso é culpa dos pais que não chamam a atenção da menina, não educam, não impõem os limites na hora certa... Aí, depois ela cresce e vira uma adolescente mimada, que não respeita ninguém... Mas a própria vida irá tratar de ensiná-la no futuro e etecetera e etecetera... Esse era o meu discurso antes de passar a jogar no time dos casados e cometer a insanidade de me tornar pai.
Eu achava que, para criar um filho, não era necessário nada além de um diálogo franco e aberto. Ledo engano. Pura ilusão. Não que o diálogo não seja importante na relação pai e filho, mas, para que esse mecanismo tenha alguma utilidade prática, é preciso um mínimo de cooperação e atenção participativa do interlocutor. E isso só se torna minimamente viável lá pelos quatro ou cinco anos de idade. Em outras palavras, entabular uma conversa racional com uma criança menor que isso é o mesmo que tentar convencer as paredes de que o céu é vermelho.
Acredite em mim: é absolutamente impossível argumentar com uma criança de dois anos que se encontra enlouquecida de raiva porque o canudo da lanchonete não é da cor que ela queria.
Por isso, se você ainda não tem filhos, tenha um pouco de complacência com aquele pai desesperado porque a linda pivetinha se recusa a sentar na cadeirinha e colocar o cinto de segurança ao embarcar no automóvel da família. Lembre-se de que ele deve estar sem dormir direito há semanas, cansado de trocar fraldas dez vezes ao dia e preocupado porque a baixinha não quer comer nada ultimamente. Lembre-se de que sua casa provavelmente está com as paredes rabiscadas, brinquedos espalhados pela sala e um rolo de papel higiênico atolado no vaso sanitário. Lembre-se de que o carro dele certamente não vê água desde a última chuva e deve estar com os bancos cheios de pegadas de criança e farelo de biscoito.
E tudo graças à coisinha mais fofa e inofensiva da casa.
Isso mesmo.
Aquela anjinha capaz de fazer o mundo se desmanchar num sorriso. Todo cuidado com ela! A baixinha acaba de entrar na idade da birra.

Sempre na vanguarda dos slogans e clichês irritantes, os americanos criaram a expressão terrible two (ou terríveis dois, na tradução literal) para denominar o período catastrófico que começa por volta de um ano e meio de idade da criança e se estende dramaticamente até que ela complete o terceiro aniversário. Um pouco mais ou um pouco menos, dependendo da sua má sorte. É justamente nessa fase que a pequenina começa a expressar seus desejos e opiniões próprias, o que nem sempre se contextualiza de modo civilizado e coerente.

- Liz, o que você quer comer?
- Batatinha.
E quando o pai chega com o prato de batatinhas...
- Eu não quero isso!
E dá-lhe pirraça.

A verdade é que aos poucos – e por falta de alternativa diversa – os pais vão se adaptando aos chiliques e faniquitos dos filhos. Acostumam-se a fazer as refeições ao som da insuportável programação da TV infantil; aprendem a melhor forma de imobilizar as pernas da criança na hora de trocar as fraldas (de modo a evitar um chute na cara); e passam a agir com naturalidade enquanto ela se deita no chão do supermercado e esperneia porque quer abrir e comer o tubo da pasta de dente que acaba de ser colocada no carrinho.
É isso aí, parceiro...
A boa notícia, como já disse Piangers, é que o terrible two não dura para sempre. E nem poderia.
Até porque depois dele vem o terrible three, o terrible four...

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