(Conheça o livro Pai de Menina: Bem-vindo ao Mundo Cor de Rosa, de Eduardo Buzzinari)
Antigamente – e quando
digo antigamente me refiro a antes de ter filhos – eu via uma criança
fazendo birra no shopping e logo
pensava que a culpa era dos pais. Era só ver os pequeninos batendo o pezinho,
sacolejando os braços ou chorando a plena força dos pulmões que eu já
crucificava os pobres do papai e da mamãe. Isso
é culpa dos pais que não chamam a atenção da menina, não educam, não impõem os limites
na hora certa... Aí, depois ela cresce e vira uma adolescente mimada, que não
respeita ninguém... Mas a própria vida irá tratar de ensiná-la no futuro e
etecetera e etecetera... Esse era o meu discurso antes de passar a jogar no
time dos casados e cometer a insanidade de me tornar pai.
Eu achava que, para
criar um filho, não era necessário nada além de um diálogo franco e aberto.
Ledo engano. Pura ilusão. Não que o diálogo não seja importante na relação pai
e filho, mas, para que esse mecanismo tenha alguma utilidade prática, é preciso
um mínimo de cooperação e atenção participativa do interlocutor. E isso só se
torna minimamente viável lá pelos quatro ou cinco anos de idade. Em outras
palavras, entabular uma conversa racional com uma criança menor que isso é o
mesmo que tentar convencer as paredes de que o céu é vermelho.
Acredite em mim: é
absolutamente impossível argumentar com uma criança de dois anos que se
encontra enlouquecida de raiva porque o canudo da lanchonete não é da cor que
ela queria.
Por isso, se você ainda
não tem filhos, tenha um pouco de complacência com aquele pai desesperado
porque a linda pivetinha se recusa a sentar na cadeirinha e colocar o cinto de
segurança ao embarcar no automóvel da família. Lembre-se de que ele deve estar
sem dormir direito há semanas, cansado de trocar fraldas dez vezes ao dia e
preocupado porque a baixinha não quer comer nada ultimamente. Lembre-se de que
sua casa provavelmente está com as paredes rabiscadas, brinquedos espalhados
pela sala e um rolo de papel higiênico atolado no vaso sanitário. Lembre-se de
que o carro dele certamente não vê água desde a última chuva e deve estar com
os bancos cheios de pegadas de criança e farelo de biscoito.
E tudo graças à coisinha
mais fofa e inofensiva da casa.
Isso mesmo.
Aquela anjinha capaz de
fazer o mundo se desmanchar num sorriso. Todo cuidado com ela! A baixinha acaba
de entrar na idade da birra.
Sempre na vanguarda dos slogans e clichês irritantes, os
americanos criaram a expressão terrible
two (ou terríveis dois, na
tradução literal) para denominar o período catastrófico que começa por volta de
um ano e meio de idade da criança e se estende dramaticamente até que ela
complete o terceiro aniversário. Um pouco mais ou um pouco menos, dependendo da
sua má sorte. É justamente nessa fase que a pequenina começa a expressar seus
desejos e opiniões próprias, o que nem sempre se contextualiza de modo
civilizado e coerente.
- Liz, o que você quer
comer?
- Batatinha.
E quando o pai chega com
o prato de batatinhas...
- Eu não quero isso!
E dá-lhe pirraça.
A verdade é que aos
poucos – e por falta de alternativa diversa – os pais vão se adaptando aos
chiliques e faniquitos dos filhos. Acostumam-se a fazer as refeições ao som da
insuportável programação da TV infantil; aprendem a melhor forma de imobilizar
as pernas da criança na hora de trocar as fraldas (de modo a evitar um chute na
cara); e passam a agir com naturalidade enquanto ela se deita no chão do
supermercado e esperneia porque quer abrir e comer o tubo da pasta de dente que
acaba de ser colocada no carrinho.
É isso aí, parceiro...
A boa notícia, como
já disse Piangers, é que o terrible two não dura para sempre. E nem poderia.
Até porque depois dele vem o terrible three, o terrible four...
Até porque depois dele vem o terrible three, o terrible four...
Nenhum comentário:
Postar um comentário