O mundo é gay.
Foi o que me disse, certa
vez, alguém cujo nome já não me recordo. Sabe como é, a idade vai avançando e a
memória não é mais a mesma de quando era capaz de dizer a escalação do Brasil
de 94 de cor. Hoje mal me lembro da dupla Bebeto e Romário. Tinha ainda o
Taffarel, o Dunga... E outros nomes me vêm à cabeça, mas já não sei se eram
jogadores da seleção ou meus colegas de primário. O fato é que o mundo está
ficando cada vez mais gay – o que é ótimo sob vários aspectos.
A liberdade de expressão
foi elevada a seu expoente máximo, permitindo que todos manifestem publicamente
suas preferências sexuais num carnaval de liberdades que dura o ano inteiro,
mesmo fora da Bahia. Todos são livres para escreverem o que pensam na linha do
tempo do facebook e postarem suas selfies fazendo pose no espelho. Abaixo
a repressão moral! E qualquer comentário debochado ou preconceituoso é impiedosamente
condenado ao repúdio coletivo e à execração nas redes sociais.
Tudo isso é maravilhoso,
mas pode causar certos embaraços.
Fico pensando, por
exemplo, na situação daquele pai e daquela mãe que estão decidindo o nome do bebê.
Como fazer a escolha certa sem saber se, no futuro, aquela criança irá assumir
uma opção sexual coincidente com a sua anatomia? Talvez fosse o tempo de se
atualizar o registro civil para fazer constar duas alternativas na certidão de
nascimento: um nome oficial para o sexo presumido e um nome reserva para o
plano B – a escolha seria do próprio interessado ao completar dezoito anos.
Assim, Sansão poderia se tornar Dalila, João poderia se tornar Joana e Juraci
poderia ficar do mesmo jeito, pois tanto faz.
Engraçado que esse assunto
me faz recordar a história do sexo dos caramujos, que li, anos atrás, não me
lembro mais onde – minha memória anda mesmo péssima, ainda bem que tem o google para uma pesquisa de última hora
que confira um mínimo de credibilidade a este texto. Como eu ia dizendo, certos
tipos de caramujos trocam de sexo ao longo da vida. Isso mesmo. Trata-se de um
engenhoso mecanismo evolutivo que amplia as chances de sobrevivência da
espécie, na medida em que cada organismo carrega dentro de si os gametas masculino
e feminino. Na prática, o caramujo nasce macho, torna-se fêmea após algum tempo
e passa a maior parte da vida nessa condição, voltando a ser macho pouco antes
de morrer. É um dos poucos animais que vive a experiência da sexualidade em sua
plenitude. Só não imagino a dificuldade para os papais caramujos escolherem um
nome que combine com seus filhotes diante dessa multivariedade sexual....
O fato é que, após muito
refletir, enfim cheguei a uma conclusão. Os caramujos ainda não sei, mas se eu
tiver um terceiro bebê, vou batizá-lo de Ariel. Aí, quando ele crescer, vai
poder decidir se quer ser homem, mulher, sereia ou marca de sabão em pó.
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