segunda-feira, 31 de agosto de 2020

O Sexo dos Caramujos

 

(Este texto é parte integrante do livro Pai de Menina²: Como Sobreviver com Duas Filhas, de Eduardo Buzzinari)


O mundo é gay.

Foi o que me disse, certa vez, alguém cujo nome já não me recordo. Sabe como é, a idade vai avançando e a memória não é mais a mesma de quando era capaz de dizer a escalação do Brasil de 94 de cor. Hoje mal me lembro da dupla Bebeto e Romário. Tinha ainda o Taffarel, o Dunga... E outros nomes me vêm à cabeça, mas já não sei se eram jogadores da seleção ou meus colegas de primário. O fato é que o mundo está ficando cada vez mais gay – o que é ótimo sob vários aspectos.

A liberdade de expressão foi elevada a seu expoente máximo, permitindo que todos manifestem publicamente suas preferências sexuais num carnaval de liberdades que dura o ano inteiro, mesmo fora da Bahia. Todos são livres para escreverem o que pensam na linha do tempo do facebook e postarem suas selfies fazendo pose no espelho. Abaixo a repressão moral! E qualquer comentário debochado ou preconceituoso é impiedosamente condenado ao repúdio coletivo e à execração nas redes sociais.

Tudo isso é maravilhoso, mas pode causar certos embaraços.

Fico pensando, por exemplo, na situação daquele pai e daquela mãe que estão decidindo o nome do bebê. Como fazer a escolha certa sem saber se, no futuro, aquela criança irá assumir uma opção sexual coincidente com a sua anatomia? Talvez fosse o tempo de se atualizar o registro civil para fazer constar duas alternativas na certidão de nascimento: um nome oficial para o sexo presumido e um nome reserva para o plano B – a escolha seria do próprio interessado ao completar dezoito anos. Assim, Sansão poderia se tornar Dalila, João poderia se tornar Joana e Juraci poderia ficar do mesmo jeito, pois tanto faz.

Engraçado que esse assunto me faz recordar a história do sexo dos caramujos, que li, anos atrás, não me lembro mais onde – minha memória anda mesmo péssima, ainda bem que tem o google para uma pesquisa de última hora que confira um mínimo de credibilidade a este texto. Como eu ia dizendo, certos tipos de caramujos trocam de sexo ao longo da vida. Isso mesmo. Trata-se de um engenhoso mecanismo evolutivo que amplia as chances de sobrevivência da espécie, na medida em que cada organismo carrega dentro de si os gametas masculino e feminino. Na prática, o caramujo nasce macho, torna-se fêmea após algum tempo e passa a maior parte da vida nessa condição, voltando a ser macho pouco antes de morrer. É um dos poucos animais que vive a experiência da sexualidade em sua plenitude. Só não imagino a dificuldade para os papais caramujos escolherem um nome que combine com seus filhotes diante dessa multivariedade sexual....

O fato é que, após muito refletir, enfim cheguei a uma conclusão. Os caramujos ainda não sei, mas se eu tiver um terceiro bebê, vou batizá-lo de Ariel. Aí, quando ele crescer, vai poder decidir se quer ser homem, mulher, sereia ou marca de sabão em pó.

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