Primeiro eu achei que era
piada.
Depois, pensei melhor e
percebi que ninguém seria capaz de uma brincadeira tão sem graça. O tal negócio
era sério mesmo.
Childfree. Ou, na tradução
literal, “livre de crianças”.
Para quem, por sorte, nunca
ouviu essa palavra antes, vale uma breve explicação. O childfree é um movimento que busca restringir a entrada dos
pequeninos em hotéis, bares, restaurantes e outros estabelecimentos
aparentemente feitos para adultos. Os simpatizantes defendem que é uma forma de
se garantir a paz e o sossego em locais frequentados por casais sem filhos, que
assim podem se embriagar em silêncio antes de seguir para o motel. Eu sei... É
realmente difícil se acreditar em certas coisas. Fantasmas, extraterrestres, a
lei de fidelidade partidária, o microfone do Sílvio Santos... Tem gente que
duvida até hoje que o homem foi à Lua, só para citar um exemplo. Eu mesmo
custei a aceitar que a seleção havia perdido a final da Copa de 98, embora tenha
assistido àquele desastre pela televisão, como todos os outros brasileiros.
Achava que acordaria no dia seguinte e que todos aqueles gols teriam sido um
pesadelo pavoroso, fruto de um delírio nacional coletivo que contagiara torcida
e imprensa num imenso surto psicótico. Fiz terapia e tudo.
Mas pior que o Zidane só
mesmo o childfree – muito
provavelmente os gênios que tiveram esta brilhante ideia se esqueceram de que eles
próprios já foram crianças um dia.
Fico aqui pensando com
meus botões qual seria a reação das pessoas se a tal proibição atingisse um outro
segmento social, como os homossexuais, os deficientes, os índios ou os
torcedores do América. Imagine só: “neste supermercado idosos não entram” ou
“gordos não são bem-vindos nesta pizzaria”, ou ainda, “nada de torcedores do América
perto da minha barraca de maria-mole”. Parece bizarro, não?
Colocando as coisas nestes
termos, fica claro que o childfree,
sob o manto de um falso movimento libertário, encerra um discurso de ódio e
intolerância contra crianças. É claro que a opção de não ter filhos é uma
escolha tão natural quanto qualquer outra e, como tal, merece respeito. O
problema acontece quando essa opção transborda a esfera individual para se
transformar num movimento que enxerga as crianças como criaturas inimigas. É
justamente nesse ponto que toda a ideologia se perde, pois quem se sente
plenamente feliz e realizado com suas escolhas não tem necessidade de convencer
(ou obrigar) os demais a pensarem do mesmo modo.
Na verdade, o childfree é um movimento fascista,
segregador e fruto de uma moralidade distorcida, na medida em que não se
restringe à opção de não ter filhos, mas se esforça em afastar as crianças do
convívio social. Prova maior disso é a placa recentemente colocada numa
lanchonete de São Paulo, na qual se diz “cachorros são bem-vindos, mas favor
amarrar as crianças ao poste”. Precisa dizer mais? Sorte deste sujeito que o
cachorro dele não sabe ler.
E sorte nossa que as
crianças não são politicamente organizadas a ponto de responderem na mesma
moeda. Pois eu detestaria ser proibido de entrar na sorveteria.
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