(Este texto é parte integrante do livro Pai de Menina: Bem-vindo ao Mundo Cor de Rosa, de Eduardo Buzzinari)
E
chegou a hora de falar do chá de fraldas.
Provavelmente
você já sabe o que é isso. Talvez até já tenha participado de alguns, já que,
na cabeça das mulheres, eles se tornaram uma tradição quase tão obrigatória
quanto fazer os exames de ultrassom ou correr para comprar blusas decotadas que
realcem o novo volume dos seios.
De
qualquer forma, para quem não conhece, vale uma breve explicação. Chá de
fraldas é uma espécie de festa de aniversário sem aniversariante. Tem
refrigerante, cerveja, bolo e salgadinho, mas não se canta o parabéns (por favor, não vá ser você a
cometer essa gafe de puxar a cantoria na hora de partir o bolo!). Geralmente,
acontece no salão de festas do condomínio ou no quintal de casa, sem muita
cerimônia, o que é pretexto para trajes informais, copos descartáveis e
guardanapos mais baratos.
O
ingresso é um pacote de fraldas.
E
aqui vai uma nota: é importante verificar no convite se existem especificações
técnicas quanto ao tamanho e modelo, pois é isso que vai te franquear acesso
irrestrito à mesa de salgadinhos. É esse o objetivo da festa: um pacote de
fraldas em troca de salgados frios e guaraná morno. Quem resiste? Negócio da
China. E caso você se esqueça de comprar as fraldinhas, não entre em pânico!
Invente uma desculpa bem improvável - uma dessas que de tão estapafúrdia só
pode ser verdade – tipo, fui abduzido no caminho para a festa e o alienígena,
além de extrair meus rins e uma amostra de DNA, ainda levou as fraldas para um
experimento genético. Dá pra acreditar?
Em seguida, prometa cinicamente que levará o pacote, sem falta, no dia seguinte
(até parece...), ignore os olhares feios dos donos da festa e siga
disfarçadamente em direção ao prato de rissoles.
Onde
paramos?
Ah,
o ingresso é um pacote de fraldas. Isso mesmo. Embora não seja proibido (e seja
até comum) levar outros tipos de presentes, tudo dependendo do grau de
afinidade e desprendimento financeiro do convidado. Assim, sua linda
pirralhinha poderá ganhar lembrancinhas, roupinhas, sapatinhos, brinquedinhos,
enfeitezinhos e outras peças de enxoval flexionadas no diminutivo. É claro que
isso tudo seria muito útil se sua esposa não tivesse comprado absolutamente todas
as coisas possíveis e imagináveis da loja de bebê. De fato, não restaram muitas
opções originais para os convidados e o que acontecerá na prática é que todas
as tentativas de surpreender a futura mamãe resultarão em falsos sorrisos e em
pilhas de presentes repetidos acumulados dentro do armário.
Quer
um conselho? O melhor é receber fraldas mesmo. E se alguém perguntar que outro
tipo de coisa sua garotinha estaria precisando, responda: mais fraldas. Se o
convidado continuar insistindo, mantenha-se irredutível: fralda, fralda e
fralda! (bata o pé, se julgar necessário) Acredite, parceiro: por mais fraldas
que se tenha, elas nunca serão o suficiente. E costumam acabar sem aviso
prévio, bem no meio da madrugada.
Mas
voltemos ao chá.
Recebidos
os convidados, costuma-se empilhar os pacotes de fraldas sobre uma mesa ou numa
escultura medonha em formato de torre no canto da parede (cuidado para não
despencar em cima daquela tia sensitiva que jurava ser menino o bebê). Aí, pela
estimativa da quantidade de fraldas e pelo custo dos salgados, você poderá
calcular mentalmente se a festa valeu a pena. Puro exercício de inutilidade, no
entanto. Quase sempre, a conta fica elas por elas. E ainda que assim não o
fosse, de nada adiantaria: a moça dos salgados não aceita devolução.
Pois
bem.
Logo
na entrada da festa, você perceberá que a barriga da futura mamãe se tornou uma
obra de domínio público (liga não, quando ela estiver amamentando serão os
seios). As pessoas reparam, apalpam, acariciam, fazem comentários e
prognósticos, como se o ventre materno fosse uma entidade autônoma, e não mais
parte integrante de um ser dotado de individualidade e vontade própria. O que
acontece de fato é que a sociedade se apropria das grávidas e as transforma
numa espécie de assunto de interesse geral. Por isso, não estranhe se os
parentes e amigos conversarem com a gestante olhando diretamente para sua
barriga ou até mesmo conversarem diretamente com a barriga, dispensando a
intermediação da hospedeira.
Passado
esse desconforto inicial e o ataque maciço à mesa de salgados, no entanto, é
chegada a hora das brincadeiras. E muitos dizem que as brincadeiras são a alma
do chá de fraldas. Funciona assim: as mulheres se reúnem em torno da gestante,
formando um círculo de cadeiras ao redor dela, como se fossem venerar um
oráculo. E os homens fazem o mesmo em torno do freezer de cerveja. Então, as
mulheres passam a entregar os presentes à futura mamãe, que deverá adivinhar o
conteúdo das embalagens. Os homens começam a tomar cerveja. A grávida (que, até
então, é só sorrisos) balança os pacotes próximo ao ouvido, avalia o tamanho e
formato dos embrulhos e arrisca seus palpites, enquanto as outras a incentivam
com gritos histéricos e assobios desvairados. Os homens continuam a beber
cerveja. A cada erro da futura mamãe, uma das convidadas tem o direito de
pintar um pedaço da sua barriga com batom. Os homens persistem tomando cerveja.
O mulheril segue em delirante euforia e nem percebe a cara de frustração da
dona da festa com os presentinhos mais ou menos que se sucedem um após o outro.
Os homens passam a falar de futebol, sem parar de tomar cerveja. Os espaços
livres na barriga da grávida terminam e as mulheres passam a colorir os braços
e o rosto da anfitriã, que, nesse momento, está olhando para o teto e imaginando
onde vai guardar aquele monte de porcarias repetidas que ganhou. Os homens
param de comentar futebol, mas não de beber cerveja. Todos os presentes já
foram abertos, a dona da casa acertou dois palpites, errou dezenove e está
parecendo uma caloura de faculdade com a boca pintada igual palhaço. Você olha
para o lado, vê um orangotango roxo com bolinhas amarelas dançando tango em
cima da mesa da sala e percebe que está bêbado demais para continuar tomando
cerveja.
Os
convidados vão embora.
Você
e sua esposa se entreolham.
-
Gostou da festa, querida?
Ela
não responde. Segue direto para a cama e se estatela em meio aos lençóis. Você
a acompanha, entra no quarto e troca de roupa. Mas não encontra espaço para se
deitar, porque, a essa altura da gestação, a futura mamãe já estará dormindo
abraçada a cinquenta travesseiros e não sobra nem um pedacinho livre da cama.
Aí,
você volta para a sala e repara que aquele orangotango colorido ainda está por
ali. Então, abre mais uma cerveja e fica o resto da noite de pijama discutindo
futebol com seu novo amigo. Aquele estranho primata dançarino.
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Nossa, mas desse jeito até desisto de fazer um chá de bebê. Não quero terminar mais pintada que a globeleza...
ResponderExcluirDesiste não, Ma! A gente sofre, mas no fundo é divertido! rsrsrs
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