(Este texto é parte integrante do livro Pai de Menina: Bem-vindo ao Mundo Cor de Rosa, de Eduardo Buzzinari)
A
essa altura do campeonato, não é incomum que sua filha já tenha mais pares de
sapatos que dias de gestação e, mesmo assim, ainda não saiba como se chama.
Pois
é.
A
barriga da futura mamãe continua crescendo e já é chegada a hora de escolher o
nome da sua princesa.
Aqui
vale uma única regra:
nunca,
jamais,
sob
nenhuma hipótese, causa ou circunstância, cogite a possibilidade de sugerir o
nome de uma ex-namorada para sua filha, por mais inofensivo que possa parecer
ou por mais bem-resolvida que seja sua relação conjugal.
A
não ser que você queira despertar a ira de um dragão de sete cabeças loucamente
enfurecido, cuspindo fogo pelas ventas e com a progesterona batendo na casa dos
cento e sessenta.
Tudo
por sua conta e risco.
No
mais, vale tudo.
Vale
escolher o nome da atriz preferida, de uma modelo famosa, de uma jogadora da
seleção de voleibol ou até mesmo daquela heroína dos videogames por quem você
era apaixonado na adolescência.
Vale
homenagear a mãe, a sogra, a esposa do porteiro, a prima da diarista ou até
misturar o nome das quatro para criar uma aberração grotesca e pavorosa (embora
eu pessoalmente não aconselhe esta opção).
Vale
inventar palavras malucas e sem sentido, como fazem as artistas de televisão.
Vale
até escolher nomes mais simples e comuns, que não exponham a criança ao
ridículo e à comiseração pública. Muitos, inclusive, adotam essa última
corrente: menos criativa, porém mais segura e ortodoxa.
Questão
de gosto.
- E
então? Já pensou no nome? – pergunta a mãe indecisa.
-
Já pensei em alguns... – responde o pai.
-
Diz aí.
-
Letícia?
-
Não. Já é nome da filha da Débora.
- A
Débora sua prima?
-
Isso. A Débora.
- E
qual o problema? Ela mora lá em Cascadura. Vocês mal se encontram.
-
Nem pensar! Invejosa como ela é... Vai pensar que eu tô imitando o nome da
filha dela.
- E
que tal Vanessa?
-
Não, senão vão pensar que é por causa da modelo que namora aquele jogador de
futebol.
-
Hum... Deixa eu ver... Isadora?
-
Ficou louco? Esqueceu que seu sobrenome é Pinto?
-
Vixi! Esquece...
-
Mais alguma ideia?
- E
se a gente misturasse nossos nomes?
-
Acorda, Vágner! Meu nome é Gina!
-
Tá difícil... O que você acha de Bruna?
-
Não.
-
Cláudia, Elisa?
-
Não, não.
-
Amanda, Taís, Priscila?
-
Não, não e não.
-
Sabrina, Raíssa, Ana Paula, Tamires, Bianca?
-
Não. Nenhum deles.
-
Carolina, Manuela, Luana, Cecília, Anita, Joana...
-
Não, não, não, não, não e... opa!
-
Que foi?
-
Joana! Taí, gostei! Joana!
-
Ufa! Então posso voltar a ler meu jornal?
-
Claro que sim, amorzinho. Daqui a pouco te trago uns biscoitos.
E
volta a Gina com os biscoitos.
-
Vágner... E o sobrenome?
-
Ora, isso é fácil. A gente pega um seu e um meu.
-
Mas eu tenho dois. Um do meu pai e um da minha mãe. Como vou escolher? O que
for preterido vai ficar desapontado.
-
Bom, então a gente põe dois seus e dois meus.
-
Mas aí o nome dela vai ficar muito longo.
-
Ora, paciência. Aliás, deve ser por isso que Dom Pedro I tinha dezessete
sobrenomes.
-
Sei... E você vai querer colocar o Pinto?
-
Onde?
- No
nome dela. Onde mais?
- E
por que não? Qual o problema com meu Pinto?
-
Nada, é que...
-
Escuta, Gina... Por que não deixamos essa discussão do sobrenome pra amanhã?
Afinal, já escolhemos o nome hoje. Deixamos o sobrenome pra amanhã. Que tal?
-
Hum... Tá bom.
E o
marido volta a ler o jornal.
-
Joana... Joana, gostei! Joana! Isso me faz lembrar... Peraí! Vágner, qual é
mesmo o nome daquela piriguete da sua ex-namorada?
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